terça-feira, outubro 24, 2006

Viajante: um curioso do viver

Penso que os desbravadores do passado deveriam ser bastante espirituosos, não apenas por terem “um amor em cada porto”, mas por sempre terem a esperança de que cada dia novas vivências e novos horizontes estariam por vir, seja para deslumbrar seus olhos, para remediar suas perdas, para abafar seus receios, para renovar suas almas.

Se realmente existirem vidas passadas, acho que fui um desses navegadores. Não que necessariamente fosse um capitão para ostentar minha patente, mas um mero marinheiro que, sem ter nada a perder, embriaga-se pelo mar em busca de aventuras e novas experiências.

E penso que essa característica permaneceu em mim, graças às reencarnações, pois cada viagem que faço, meu espírito exala sentimentos bons e diferentes, alguns muitas vezes esquecidos em nosso dia-a-dia corrido, objetivo, mecânico, sem graça.

Nesses momentos, a sensação de liberdade não se restringe ao “ir e vir” das Constituições democráticas, mas àquela que supera os horizontes, transcende aos meus passos, alarga minha mente. Cada novo lugar, planta, pessoa e cheiro conhecidos, faz-me sentir mais viva e nutrida de esperanças, pois sempre haverá um novo limite para alcançar e tentar a vida. Entretanto, nem sempre precisamos viajar para lugares diferentes, às vezes, voltar a um lugar antes visitado nos faz resgatar algo que a vida deixou passar, nos fez perder, descartar ou desistir temporariamente.

Além disso, a possibilidade de conhecer novos estilos de vida nos faz valorizar o que temos ou ponderar o valor demasiado que atribuímos, seja em bens materiais, em conquistas ou em sentimentos que alimentamos em nossos ambientes.

Certa vez, tive a chance de visitar locais “esquecidos por Deus”, em que só percebi que ali residiam seres humanos porque havia energia elétrica precariamente instalada, pois entre bichos e crianças, não havia distinção. Por outro lado, encantei-me com visões naturais inusitadas numa ilha repleta de golfinhos, águas cristalinas e tubarões que não atacam por terem alimento em seu habitat natural.

E, untando esses universos, admirando cidades iluminadas construídas pelo homem ou a encantadora natureza que persiste a essas transformações, saciamos nossas angústias, descarregamos nossas energias e nos convencemos do quão precioso é viver!

Monique Mendes

segunda-feira, outubro 23, 2006

Depoimento para uma revista feminina

Não tenho mais palavras pro sentimento que me alimenta, mas tenho todas as letras marcadas no meu peito, no meu humor. Racionalmente, vejo claramente que ele não é homem para mim por não ser carinhoso, atencioso, romântico, carente. Vejo-o totalmente auto-suficiente, se bastando, sendo feliz por ele mesmo.

Enquanto eu, tenho meus pensamentos sempre lá onde ele está. Ora divagam sobre o que vivo em minha vida, ora pelo que vivemos juntos, ora pelo que ele vive e eu não posso estar. Nunca senti tal necessidade com alguém. Acho que ele jogou um pó alucinante sobre mim, comandando meus pensamentos, ampliando meus desejos, dando vazão às minhas loucuras, de modo a torná-los fora de meu alcance. Ou será que me deixei ficar assim?

O jeito dele me seduz, me encanta, me deixa bem. É como um alimento diário pra minha alma e pro meu bem-estar. Mas não posso falar isso pra ele, pois sinto que relacionar-se é pura sedução e, entregar meus sentimentos, é como entrar no jogo já jogando em desvantagem.

Por outro lado, penso que é assim que se deve viver um grande amor. Do que valeria a pena, se as cartas não fossem escritas, o sentimento não fosse dito, as fotos não registrassem momentos felizes que foram vividos, deixando de lado os problemas, as ilusões, as decepções?

Comparo-me às minhas amigas e sinto que estou sem rumo, sem futuro, sem expectativas, sem planos. Minha vida conjugal virou um jogo de xadrez em que o controle do jogo não está em minha mente e o meu rei está prestes a ficar em xeque-mate.

Complexa essa vida...acho que a solução é não ter solução. O que nos resta é viver, esperar o tempo pregar suas novidades e esperanças. Não é isso que passa em minha cabeça, ela insiste em querer resolver seus problemas com soluções intrincadas, difíceis e pragmáticas, mas meu coração pede pra parar e respirar mais uma vez, pois pro amor sem tem uma segunda chance.

Monique Mendes

domingo, outubro 22, 2006

A doce saudade

Acho que o sentir saudade é sempre uma demonstração de que algo/alguém importante se foi para sempre ou temporariamente em nossa vida. Sentimos saudades dos momentos, dos cheiros, dos gostos, das músicas, do prazer, do beijo, do abraço, da palavra doce em lugares reservados, da chatice, da ironia. Contudo, esses elementos estão sempre relacionados a pessoas amadas, pessoas especiais, pessoas que se foram para sempre ou apenas estão longe, mas que o amor as tornam sempre perto da gente.

Acho que a saudade se evidencia assim: o outro deixa seu cheiro no ar através de outras pessoas, insere uma cor caraterística ao ambiente que nos faz lembrar ela, traz um pensamento por uma música tocada, peculiariza uma comida por ter sido compartilhada de forma única, codifica um som apenas intimamente identificável aos seus ouvidos, particulariza um toque que alucina...
E o mais interessante! Acho que essa saudade é motivada involuntariamente pelo outro em nossa vida. Às vezes ele nem está pensando em nós ou nem tem vida mais entre os mortais, mas sua presença está sempre viva pelos momentos que um dia nos proporcionou, por uma palavra especial que disse, por seu jeito leve em superar momentos tristes, por nos ensinar algo que a vida ainda não tinha te mostrado, mas que fez dele mensageiro fiel...
Sentir saudade assim é transformar a dor que amarga em doce prazer do dia-a-dia, mas a imperfeição humana nos faz, algumas vezes, apenas torná-la um chocolate amargo, que nos ludibria com seu nome "chocolate", mas quando apurado, torna ácidos o paladar e a vida.
Monique Mendes