segunda-feira, agosto 27, 2007

Merchandasing barato

Queria dizer o que penso sem ter sempre a sensação de estar incomodando alguém. Talvez seja porque todas as histórias narradas por mim sejam com muitos detalhes, já que analiso todos os pontos, verifico cada uma das arestas tortas, me abato com o que me incomoda e falo isso utilizando todas as letras do alfabeto. E concluo: ora orgulho-me em ser o que percebo ser, mas nem sempre tenho muito sucesso com situações convencionais.

Por mais superficial que eu relute ser, os momentos e as pessoas são algo que não toca apenas a minha epiderme. Talvez seja por isso que não suporto a intimidade aguada entre quase desconhecidos. Inevitavelmente, deixo-as invadir minhas entranhas, permito que sejam profundamente os motivos de minha felicidade.

Mas queria rir com elas e sem elas. Queria não me sentir traída por atos que fizeram conscientemente somente porque jamais eu havia pensado em agir tão miseravelmente com alguém que considerava especial. E assim eu achava que era para eles e escorreguei na casca de banana na esquina dos meus dias.

Talvez seja porque não sou daqui. Combino seco com molhado, colorido com estampado. Comporto-me diferente: sorrio para os íntimos e emudeço para os desconhecidos; falo o que realmente sinto ao invés de arranjar uma boa resposta que saia pela tangente e sou do tempo em que se olhava na “janela da alma” quando se diz a verdade.

O grande problema disso tudo é que o planeta que criei anda desabitado. Faço anúncios e procuro ansiosamente um olhar em que eu possa verificar que esse sentimento de diferença é de igualdade entre nós. E, quando penso que encontrei um possível morador desse planeta bem estruturado, mas deserto, viro Merchand.

Por enquanto, sem sucesso. Vivo à base de Lexotan!

Monique Mendes

sábado, agosto 25, 2007

Relance de vida, mesmo que maldita

A sensação de vida sempre me foi presente nos momentos de felicidade. Mas, na hora da raiva, a demonstração de vida é ainda mais voraz!

O sangue percorre nosso corpo ultrapassando curvas sinuosas numa velocidade que supera a calmaria do sorriso, o brilho no olhar, o prazer das elucubrações de festa. O rubor da pele torna-se lagartixa, a visão turva e o calor dos membros se esvai!

A voz descontroladamente ecoa palavras grosseiras, a mente pensa atropelando as medidas sociais e a adrenalina ativa os sensores das verdades mais cruéis. O que tava ruminando há semanas, é definitivamente vomitando com todo seu peso, toda a carga de piano desafinado.

Cegos, atravessamos avenidas movimentadas, elaboramos planos miraculosos, desejamos a morte do adversário como se ele fosse a formiga tanajura piniquenta e desagradável num dia de piquenique no parque.

Você, que não consegue abrir uma lata de sardinha, carrega 300 toneladas, amassa todos os portões de ferro na sua frente e bate as portas quase que destruindo toda a sua estrutura de alavancas de abre-fecha.

E quando o espetáculo de menina mimada chega ao fim, a sensação é de ridícula e arrependida, mas é de se abismar, para quem observa de fora, a capacidade de demonstração de vida de uma menina magrinha, de voz doce e sem graça!

Monique Mendes

segunda-feira, agosto 13, 2007

Sob novas perspectivas


Certa vez, li em algum lugar, que a história da humanidade se constituía por ciclos: sejam nas vontades, nos ideias e/ou na literatura. Entretanto, mesmo que voltando ao ponto inicial, sempre algum detalhe pitoresco havia sido acrescentado - os árcades, os românticos, os naturalistas e os parnasianos me mostraram isso. Nos primeiros, a mulher era intocável, depois passou a ser uma deusa mais tocável, logo depois uma devassa e, por fim, apenas objeto descritivo dos grandes escritores, como vasos e pérolas.

Constatei que tudo depende de um ponto de vista: a angelical, apesar de não poder ser tocada, era vista em seus mais sensuais detalhes; a deusa mais tocável hipnotizava os boêmios ao invés dos mais ingênuos; a devassa mostrava toda sua silhueta descoberta e, por isso mesmo, não tinha tantos detalhes picantes advindos do segredo e, parnasianamente, depois de mostrar tudo, passou a ser objeto de descrição dos apreciadores frios. Entretanto, a sensualidade variava de acordo com o que mais tocava o leitor, seja a devassidão, seja a pureza da virgindade, seja o detalhe das descrições.

Parece óbvio ou maluco mas, a partir dos livros de literatura do colégio, passei a adotar esse variável ponto de vista, quando antes minha mente apenas se direcionava para um só pensamento e dedução. Assim, a garota que não estudava, deixou de ser somente preguiçosa ou desinteressada. O galhofeiro da sala, deixou de ser panaca. A garota que ficava com todos os garotos, deixou de ser safada. O paquerinha não foi mais excluído por possuir um sinal cabeludo, afinal, tinha um brilho no olhar.

Meus personagens deixaram de ser maniqueístas. Até mesmo eu deixei de ser a careta CDF da sala. Não que eu usasse óculos e tivesse cabelo arrepiado como mostram os filmes americanos, mas porque a falta de tato para lidar com as diferenças me fazia ser chata, arrogante e a dona da verdade. Assim, apesar de ter lido os livros mais vanguardistas, agia preconceituosamente quando os utilizava para me vangloriar dos que apenas tinham lido gibi da Turma da Mônica nas férias.

Quando resolvi tirar os cabrechos do radicalismo, as tardes solitárias de leitura continuaram as ser legais, mas passei a brincar de pique-esconde com o pessoal da rua, deixei de ser chamada de "Miss Simpatia" e parei de eliminar as pessoas por detalhes tão sutis diante de toda sua completude.

E, agora confesso, apesar de não usar saia curta, me deleitava com o despudor dos naturalistas.

Monique Mendes