domingo, novembro 26, 2006

O amor é um móbile

Quando criança, achava que o amor fosse imutável como a última cena que os filmes de romance mostravam, acompanhada de “The End”. Aquelas cenas finais, sempre em paraísos naturais, fincavam em minha cabeça um estado relacional permanente e feliz de um casal para todo o sempre. Nada de dia-a-dia, dificuldades financeiras, mudanças de humor.

Entretanto, a própria vida desmistifica o amor dos filmes de romance. Deixemos de lado, então, o amor pronto, formatado pelos diretores de tv. Esqueçamos das histórias representadas por musas e galãs que, mal se conhecem, mas se vestem em seus personagens para dar um toque de humanidade a todo aquele set de filmagem.

Surpreendentemente, na vida real, o amor pode ser mais do que essa cena casuística que fica na memória das crianças. Pode-se verificar que sua grande virtude é ter uma capacidade potencial de poder ser construído, inventado, adaptado, modificado quando colocado à frente de percalços. É ele ser a motivação para driblar o dia-a-dia, relevar a conta de telefone que não foi paga, superar o mau humor do parceiro num dia em que ele acordou de ovo virado.

Por isso, não dê “pause” no seu amor. Desejar isso é pedir para que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine, que ele chegue ao seu fim, que a chama dionisíaca de sua fogueira torne-se cinzas. Faça do seu amor um sentimento móbile, pois acreditar que ele seja esse marasmo de felicidade permanente é desacreditar na dimensão do próprio amor. É torná-lo mero instrumento do comodismo.

Monique Mendes

sábado, novembro 25, 2006

Telefone sem fio

Os símbolos sempre marcaram épocas e deixaram rastros na história. Parece que têm cheiro de poder, textura de bravura, cinzas de contestação. Entretanto, nem sempre por trás de bandeiras ou emblemas há homens de fibra, como por trás de desastres há apenas terroristas lunáticos.

A informação mal registrada traz conclusões precipitadas, mal formadas e tendenciosas; induz a uma generalidade dúbia, possivelmente absurda e preconceituosa. É como se tivéssemos brincando de telefone sem fio, há séculos, em que o último ouvinte apenas apega-se a uma palavra para dizer que entendeu alguma coisa.

E, assim, estruturou-se o amor a Getúlio Vargas na memória de nossas avós, o ódio aos judeus pelos alemães, a rejeição à burka pelas mulheres do Ocidente, o pavor dos americanos por Osama Bin Laden.

Com essa conclusão, você pode estar se perguntando, neste momento: qual o propósito desse texto, a quem ela atribui a culpa disso tudo: a historiadores? A jornalistas? Ao boca-a-boca?

Não, apenas quis construir esse texto como se constrói um símbolo através de uma informação mal registrada: traz uma generalidade dúbia e pode ter sido escrito por uma revolucionária ou por uma preconceituosa revendo seus preconceitos, você quem escolhe. Era só para mostrar que, até você, ao lê-lo, pode concluí-lo, precipitadamente, escolhendo algum culpado para isto tudo e, como se faz há séculos, espalhar na nossa história...
Monique Mendes

sexta-feira, novembro 24, 2006

Palavra pequena

Sob as luzes citadinas, a palavra de um simples homem nada vale. Tudo precisa constar no documento: data, hora, lugar, valor e registro. Este último, imprescindível!

Os fatos narrados, tornaram-se histórias em quadrinhos, apenas abobrinhas a se desconsiderar. O olhar no olhar, um mecanismo para, covardemente, manipular-se os demais, e a convicção no peito, nada mais do que um sentimento apenas seu, mas que não prova nada. Clamar pela veracidade dos acontecimentos verdadeiramente vividos é sujeitar-se ao descrédito, ao ridículo. É aceitar ser chamado de mentiroso eufemicamente...

Seja uma balinha, seja um avião, sua condição é a mesma. Afinal, o que é um consumidor sem um cupom fiscal? Um dono de terra, sem escritura definitiva? Um motorista sem o documento oficial do DETRAN? Você sem sua certidão de nascimento? Duvidam de sua existência, mesmo visualizando sua silhueta a palmos de distância.

O documento tornou-se a palavra, ou o instrumento de silêncio, da falta de argumento. Assim, nesse arsenal de verdades e mentiras, nos perdemos no que é verdade e no que é que mentira. E vivemos de documentos para nos situar, de leis para nos confirmar o certo e da falsidade documental para nos fazer duvidar de tudo isso...

Monique Mendes

quarta-feira, novembro 22, 2006

Imperfeita e inacabada

Brincar entre versos e narrativas tem sido mais excitante do que pensar em ser jornalista. Parece que quando nos enquadramos em categorias, o simples escrever não se torna mais possível. Daí em diante, tudo parece ser mecânico, previsível e até exigível: tem-se que obedecer formas, seguir padrões criados por não sei quem, respeitar indubitavelmente o vernáculo e apresentar sempre idéias interessantes, sobre assuntos pouco discutidos.

Assim, prefiro ficar no anonimato ou brincar de ser alguma coisa.
Aqui, camuflo-me em meus textos, apresento idéias malucas, incorporo personagens.

O tema não é fruto da pauta do dia,
Mas do acaso e da inspiração.
Não tenho chefe, revisora ou editora
Para me cobrar prazos e correta pontuação.
Não existe expediente nem batimento de cartão:
o tempo de trabalho é resultado da sedução do teclado em decifrar meus segredos e pensamentos mais íntimos.
E, o melhor, não há competição!

Assim, “prefiro ser o nada e o não”*,
Uma autora imperfeita e inacabada,
Mas que busca o infinito e a satisfação!

Monique Mendes

*trecho da música "O que é Bonito" de Lenine
Obs: Texto em homenagem a minha amiga Mariana Dias :)

terça-feira, novembro 21, 2006

Questionamentos modernos

Questiono-me porque o homem criou a depilação.
E porque só para as mulheres.
Questiono-me porque o homem criou o avião.
E porque não criou semáforos celestes.

Questiono-me porque o homem criou a religião.
E porque nela existem dogmas que o aprisiona.
Questiono-me porque o homem criou a sanção.
E porque a pena não soluciona.

Questiono-me porque o homem livre mora em prédios.
E porque constroem prisões de poucos andares.
Questiono-me porque o homem não se preocupa com os mistérios
E porque se conforma com corpos aos ares.

Questiono-me porque o homem criou a moda.
E porque ela mata pessoas de anorexia.
Questiono-me porque as crianças não brincam mais de corda
E porque trocaram pela tecnologia.

Questiono-me porque o homem não deixa de criar
E aí empaco em meus pensamentos
Pois existe o lado bom de inventar
Como esses versos para seu questionamento.

Monique Mendes

segunda-feira, novembro 13, 2006

Feriado brasileiro

Quando se aproxima feriado, a alegria do povo brasileiro aumenta. Seja Carnaval, Páscoa, Independência, qualquer santo da vida ou Finados, até finados. Mas poucos sabem o motivo ou a história do Carnaval. Páscoa? Não precisa deixar de comer carne nem pensar nos pecados capitais, a comemoração é logo com um churrasco e muitos ovos de chocolate. Independência...o que foi que Dom Pedro disse mesmo? Nossa Senhora de tal, não sei bem qual é o santo da vez, mas o que importa é adorar que você está inserido na festa. E finados, pobres coitados, difíceis são aqueles que vão aos cemitérios deixar flores pros que já se foram!

A regra é o momento! Se existe trio elétrico na rua, pra que pensar no motivo das coisas? Carne vermelha virou comida de todos os dias, sem exceção. Dom Pedro, deve ter dito alguma asneira que não vai aumentar meu salário, não vai desequilibrar a bolsa de valores nem vai mudar as idéias de George W. Bush. As santas, já ando com Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora da Conceição dentro da bolsa ou penduradas no pescoço. Finados, eles que estão bem, partiram desta pra melhor!

E com suas consciências tranqüilas, viajam, bebem, dançam, esquecem de seus problemas e ficam chateados quando vai chegando segunda-feira...

Monique Mendes

domingo, novembro 12, 2006

Meu armário:uma viagem na minha história

Sabe aquele dia em que a gente resolve arrumar o quarto, tirar a poeira, ver se as coisas antigas ainda prestam, separar os documentos, verificar se os papéis não estão se acumulando demais ou ter certeza de que isto está acontecendo? Pois é, fiz isso por esses dias e me deparei com cada coisa....

Uma delas, foi achar um livrinho encadernado datado de 1998, chamado RETRATOS DA VIDA – Redações Premiadas. Pensei alguns minutos porque aquilo estaria entre minhas recordações...aliás, vou abrir um parêntese, sou uma garota de recordações: guardo cartas de amor, fotos de ex-namorados, cartinhas da época da escola, bilhetinhos mais picantes da hora das aulas, cartões de aniversário, quadro pintado por sogra e toda essa parafernália que mulher romântica e nostálgica gosta de guardar. Fecha parêntese. E me diverti muito fazendo essa arrumação...

Terminei lembrando que havia sido premiada, quando eu era 7ª série e estudava no Colégio Atual, por um texto que escrevi. Resolvi procurar no índice e localizar meu nome. Descobri que o poema que havia escrito tinha um título bem estranho pra uma garota de 13 anos, confirmando que sempre fui meio excêntrica ou, na verdade, uma pirralha muito enxerida e metida a gente grande. Observem o poema:

Título: Traição

Ao olhar o pôr-do-sol, vejo você,
Tão brilhante e caloroso quando se vê.

Vejo o pôr-do-sol como o amor,
Pois quanto mais aparece
Mais se tem calor.

O sol não está ficando tão quente,
Não entendo o porquê
Mas acho
Que há alguém entre a gente.

Essa pessoa estragou
O que havia entre nós dois

Escuto dizer
Que o amor não se acaba,
Mas o que sinto por você
É uma paixão inacabada.

Realmente, esse poema merece comentários! Primeiro, assunto muito polêmico para uma criança, mas tudo se explica: ano de separação de meus pais. Segundo, a terceira estrofe realmente está muito nada a ver...o que uma criança não faz para rimar né? “O sol não está ficando tão quente”...não sei a época do ano nem o período do dia, coisas da imaginação pueril. A quarta estrofe está um comentário à parte, um pensamento que havia ficado na cabeça e eu soltei no papel, sem querer, mas usando muita psicologia, podemos dizer que deu um toque original, né?

Muito bom ter em minhas recordações traços da minha vida, verificar que um dia fui uma pirralha metida a escritora e agora puder rir de mim mesma...

Monique Mendes

sábado, novembro 11, 2006

O mundo pede + de você

Existem momentos em que o cérebro não aceita conhecimento. Insiste em pensar besteiras, em deixar-se levar pela brisa de lugares inesquecíveis, pelo sorriso de um amigo, pela saudade que arrebata, por assuntos libidinosos e secretos. Êta cabeça que não pára quieta e que não se prende às minúsculas letras que estão a centímetros de nós.

De repente, 15 minutos se passaram. Nova tentativa. Lê-se mais meia página e novos pensamentos: é um programa legal que vai passar na tv, a caixa de e-mails que há dias não é aberta, o telefone que toca, a fome que surge subitamente, o banheiro que se torna um refúgio. Assim, o relógio, que apontava como um parelelo, já se transformou em um meridiano na parede.

Contudo, o mundo pede mais de você. Os projetos possuem prazos, as provas têm data marcada, as explanações exigem excelência, os conhecimentos, fixação na cabeça. Tudo é para ontem ou para semana passada. A partir daí, os sintomas da angústia começam a aparecer: você se sente um tolo, um inútil, um vagabundo. Imagina que todos os seus amigos, inclusive seu namorado(a), estão lutando pelos seus planos de vida e você ali pensando em abobrinhas...

Aí é que não entra mais nada mesmo. Tem horas que o corpo pede pausa, que não tolera mais tanta pressão. Aí o jeito é deixar de lado aqueles signos monótonos e procurar, momentaneamente, algo mais interessante. Observe: momentamente, pois o mundo pede mais de você.

Monique Mendes

sexta-feira, novembro 10, 2006

Pensamentos a la Mainardi

Percebo que a incendiária que existia em mim esmoreceu com a realidade judiciária. Sonhava em ser advogada, mas isso não se encaixa mais. Desejava ser juíza, mas os juízes são arrogantes demais. Anseio por ser procuradora, e essa é minha única saída. Quiçá uma saída pela culatra, pois volto ao ponto de partida: ser advogada do Estado é talvez ser “advogada do diabo”.

O odor sulfúrico e carcomido exalado nos corredores dos tribunais corrói minha alma, escasseia minhas forças, torna hesitante minha escolha profissional. Tento salvar-me numa tempestade de formalismos, preconceitos, julgamentos insanos e desumanos. O conflito entre os cidadãos tornou-se apenas páginas descritivas de uma verdade dúbia, defendida por argumentos terceirizados, e que mofam nos arquivos públicos, mas que possuem tutela normativa.

Odeio essa tal de norma que cala os questionamentos humanos e arrefece as diversas possibilidades da vida. Ela priva as pessoas de serem homossexuais, preconiza uma religião como se ela fosse a melhor, obriga pobre a pagar imposto, permite senadores decidirem seus próprios salários. Não vejo justiça nisso. Acho que as molas-mestres da vida são princípios, pois sua generalidade torna possível a diversidade, privando apenas o antagonismo, aquilo que realmente impossibilitaria a convivência pacífica entre os seres humanos.

Em contrapartida, concordo que nossa vida é recheada de complexidades, o que nos faz crer que a especialidade das normas seria a solução. Contudo, temos inúmeras leis extravagantes, mas que não é de conhecimento popular. Nada feito. O uso do vernáculo erudito num país de analfabetos impossibilita a simpatia pela norma, torna-a distante, intangível. E não me venha com o argumento de que o problema do Brasil é a educação. Concordo, mas pensar assim é acomodar-se, é voar em órbitas fora do pragmatismo e da reação, pois se direito e educação se conectam, aí jaz a solução.

Sinto-me um Diogo Mainardi, mas calma, tudo não passa de uma elucubração cá nos meus botões...

Monique Mendes

quinta-feira, novembro 09, 2006

////Código///de////Barras////

Tive sobre meus olhos, recentemente, versos de um homem apaixonado por uma doce garota, que agora espelha seus setenta e poucos anos. Um amor antigo, que a viuvez deixou renascer, mas um amor bonito, gostoso de se ver.

Aquela historieta versificada tratava de um lindo sapatinho branco, atacadinho de lado, símbolo da presença graciosa daquela jovem nos encontros da igreja, nas padarias e sorveterias de décadas e séculos passados. Aquele delicado calçado, por sua ternura e distinção, assemelhava-se à dona e ao sentimento por ela em seu coração.

Aqueles versos me comoveram, fizeram-me arrepiar. Não sei se porque hoje não temos mais sapatinhos brancos atacadinhos de lado, inspiradores de versos românticos, ou porque temos poucos poetas e amantes como aquele.

Queria ter algum símbolo especificamente meu, mas tenho receio das simbologias atuais. Não quero ser conhecida como garota diesel, menina fórum, mulher adidas. Não quero ter alguém que observe tais selos costurados em calças, blusas ou sapatos como condição de aproximação ou encanto. A futilidade hodierna não permite mais paixões por sapatinhos brancos, sem moda, sem preço, sem marca. É a geração do “ter”, do “parecer”, do “possuir”. Tudo é enquadrado em perspectivas consumeristas, em que nos tornamos reflexo do que vestimos e reféns do que está escrito em uma etiqueta.

Deixemos todo esse arcabouço de lado. Que sejamos lembrados pelo valor evocativo e mágico das coisas. E já que não fugimos dos símbolos, que eu seja nada que tenha código de barras.

Monique Mendes

quarta-feira, novembro 08, 2006

Desculpem o silêncio

Desculpem o silêncio, a ausência, o afastamento
É que estive perdida em meus pensamentos
Por motivos da vida ou apenas uma desculpa esfarrapada
Só isso que posso falar, e mais nada.

Não sei se os verdadeiros escritores se afastam de seus escritos
Ou talvez essa seja apenas a reação de uma amadora
Pois pensar em escrever é pensar no que sinto
E por não sentir, não me fiz autora.

Resolvi arejar minha mente e deixar o peito gélido
Nada de pensar na vida e em suas conseqüências
Mas assim me sinto um ser esquelético
Sem vigor, sem amor, sem essência.

Nesse tempo, fiz-me errante
Vagando em horizontes afáveis
Amainando a dor intrigante
Sambando composições indecifráveis

E com esses singelos versos
Me recomponho e estou aqui
Pois tristezas na vida acontecem,
o que nos resta é sorrir!

Monique Mendes