domingo, maio 27, 2007

Refém da sociabilidade


Uma afirmação eu concordo: é necessário o ser humano ser sociável. Entretanto, ô situação repugnante a idéia de tornar-se refém dessa sociabilidade, seja por tomar atitudes socialmente admiráveis, seja por ser forçado a freqüentar determinado evento simplesmente pelo fato de alguém algum dia bem distante ter feito algo por você.

Esse compromisso social que extrapola seu círculo de preferências, tornando os momentos convencionais, tira meu apetite. Quando você desejava passar seu sábado à noite ao som de uma boa música, tomando um bom vinho, vem aquele amigo convidando você para um pagodão no Caldeirão. Você pensa: não devia ter atendido o telefone, mas lá vai você atender aquele “convite irrenunciável”.

Programa perdido. Você vai rir, mas seu riso será forçado. Você vai estar lá escutando pagode, enquanto sua cabeça traduz músicas de Chico Buarque. Seu vinho do porto,virou pinga de 50 centavos e você pode até demorar a voltar pra casa, mas seu desejo era nem ter saído do sofá de sua sala.

Não era melhor ter dito que você não estava a fim de fazer naquele dia aquele programa? Até seu amigo, que sempre foi uma companhia agradável, naquela noite, você olha de “banda”.

Acho que estou ficando velha ou apenas ficando mais atenta ao ecoar de meus desejos que, naquela noite, me diziam: Sinto muito fulano de tal, não gosto de Soweto. Mas, queres vir pra minha casa tomar um vinhozinho?

Seria uma boa saída... e aí seu amigo é quem escolheria ser refém ou não desse "convite".

Monique Mendes

sábado, maio 19, 2007

Complexo de Eva

Certa vez, li em um texto a configuração de um pensamento genial. Inicialmente maluco, talvez pela sua excentricidade, relacionava os comportamentos sociais femininos à culpa do pecado original. Isso mesmo, pagamos socialmente pelo vacilo de Eva.

Metaforicamente representado pela maçã mordida no paraíso, o pecado original, na tradição judaico-cristã, trouxe as desventuras para o mundo, sendo sua grande responsável Eva que, seduzida pela serpente, suscitou a enérgica ira divina através das seguintes palavras:“Multiplicarei os sofrimentos de teu parto: darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.”

Entretanto, caro leitor, antes que ache ridículas minhas palavras, peço que esteja desprovido de crenças religiosas. Se for ateu, entenda esta historinha como uma fábula bem ilustrada. Se for cristão, desarticule seus pensamentos de seus dogmas por alguns instantes. Se for beato, pare por aqui mesmo. Mas se for um beato curioso e questionador, ainda tem uma chance de me entender.

Fato é que vivemos numa sociedade de tradição judaico-cristã. As mulheres, em sua maioria, deixaram o tricô de lado, abandonaram os fogões e os tanques de lavar roupa. Palmas para elas! Mas as aulas de religião de um país cristão deixam os deveres sociais femininos mais fortemente incrustados do que essa simples mudança de ações.

Quantas mulheres pensam em não casar ou juntar seus trapos? Quantas não desejam ser mães? Quantas se culpam por sentirem-se incompetentes quando tem frustrado seus casamentos? Quantas não invejam a liberdade dos homens, seja por não se sentirem culpados por serem mulherengos, seja por passarem pelas cabeças deles serem apenas “bon vivants”? Quantas pensam em terminar a vida com apenas um namoradinho a tiracolo? Não..querem logo amarrar o burro e, aos 25 anos, quando estão solteiras, já acham que vão ficar para titia e se sentem feias e pouco desejadas.

Também, depois de um castigo desses?! Ser culpada pelos pecados do mundo, dar vida a alguém com uma dor imensurável, ser excitada apenas pelo seu marido e ser submissa a ele. Que piano! Parece uma idéia sem sentido, ou intrinsecamente religiosa, mas comecem, mulheres, a observar seus comportamentos...somos ainda, psicologicamente, Evas ou modernas Amélias do século XXI.

Monique Mendes


sexta-feira, maio 18, 2007

Minha companhia


Frustrante constatar a fugacidade do significado das palavras, dos atos, dos sentimentos, do presente de 5 minutos que, infelizmente, já se tornou passado.

Decepcionante verificar que, há pouco, encaravas os olhos do amor e, de repente, uma brisa morna despistou, trazendo um novo sentimento, um novo interesse ou velhas lembranças que o passado se enganou.

Fato constatar que isso acontece, mesmo. E que, nessa vida, sua companhia é apenas uma cicatriz risonha ou corrosiva que se rabiscou a frio, ferro e fogo, em carne viva.

E assim ficou no teu corpo feito tatuagem, para apenas te dar coragem, argúcia e sabedoria pra seguir viagem, até que um novo amor venha.

Prazer, minha colorida companhia.

Monique Mendes

sexta-feira, maio 11, 2007

Quem escreveu 1º??

Fantástica a diversidade dos seres humanos. Nãonada mais terrível, com toda a redundância escrachada do nonada (não + nada), do que ler em outros textos idéias que você, possessivamente, achava que eram suas. É como se violassem o seu sigilo telefônico mental, como se dessem um furo no seu pensamento e dele fuçassem o que você confabulou a sete chaves no quarto escuro da sua intimidade.

Pior, quando quem descreveu tal elucubração cometeu erros de pontuação, ortografia e concordância. Todas essas fragilidades do vernáculo tornam-se pretexto para sua língua ferrenha colocar inúmeros defeitos, mesmo que o texto seja razoável ou até possivelmente melhor do que o seu que, ao invés de ser o precursor daquela “imaginação inédita”, resolveu tomar uma cerveja e deixar aquele assunto para outro dia.

Nem se intrigue. Mesmo diante de imensa diversidade, a probabilidade de alguém já ter refletido algo que hoje você refletiu é de quase 100%. Por isso, deixe seus pensamentos e/ou textos fluírem despretenciosamente, sem competição. Assim, caso você já tenha pensado no que acabo de escrever, não fique com raiva de mim, nem me ache pouco merecedora por tal feito. Mesmo assim, espero que não tenha achado erros de português, menos um motivo para você.

Monique Mendes

segunda-feira, maio 07, 2007

Despedida


Sinto-me como um carnavalesco nato despedindo-se do mês de fevereiro. Independente dos personagens de que se fantasiou, dos amores que nos Bonfins conquistou, dos confetes e serpentinas que espalhou, sua quarta-feira de cinzas é sempre repleta de ressaca e dor.

Sinto-me como as donzelas da Idade Moderna despedindo-se de seus marinheiros. Independente dos momentos que passou, das juras de amor que escutou, dos planos que realizou, a perspectiva de futuro faltou, pois o dever de marinheiro para outro porto o levou.

Entretanto, mesmo precisando conviver com as vírgulas do porvir, mesmo combatendo a dor do inexorável fim, mesmo enfrentando a despedida e o vazio que ela traz em si, prefiro chorar o fim do que vivi a lamentar os carnavais que não me permiti, apesar de superá-los não ser tão fácil assim.

E, tentando degustar os fatos, convenço-me de que viver é batalhar com o tempo cada minuto assim, e que talvez a saída seja aliar-se ao meu tenebroso inimigo, que com seu poder, transformará a dolorosa despedida em doce saudade nos meus dias mortais com fim.

Monique Mendes