quinta-feira, março 08, 2007

Bula capsular


Alimento cultivado em laboratório, sobremesa insosso-terapêutica, injeção diária de humor falsificado. Anestésico da dor, do amor, do viver realisticamente. Ampolas de bem-estar que, quando deglutidas, abafam a angústia, alucinam os pensamentos, sufocam o suicídio.

Companheiro da solidão, utilize-o para adormecer, embaralhar reações, personificar amigos íntimos. Manipule-o a seu gosto e necessidade, pois as dosagens antigas não trarão mais a reação desejada. Para resultados permanentes, nutra suas artérias de feijão-com-arroz científico. Taquicardize seus batimentos, eletrize com alta voltagem suas sinapses cerebrais.

Com pouco tempo, terás o efeito perpétuo de sua escolha: serás produto interno bruto da natureza morta, que, sem o uso bactericida da penicilina, só restará osso. Um esqueleto branquelo, sorridente e fosco.

Monique Mendes

2 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante nique. elementos caracterizam que foi escrito por alguem que teve a experiencia. e voce descreve como tal. so quem sente sabe o que é a dor. vc parece ter intimidade com ela. ela parece cochichar a voce.
rsrs
grande beijo querida

Monique Mendes disse...

Dani, escrevi esse texto baseado no filme "Requiem para um sonho". Mas, como ser racional-sentimental, a dor está presente na vida de qualquer ser humano. Esse é o preço de termos sentimentos(nem sempre eles são bons), mas quem não quer tê-los?

Assim, viva a superação, né?
Beijo, Nique

Obs: Adorei ver que vc futrica meu blog =)