A luminosidade da cidade ludibria a natureza da escuridão do céu, a excentricidade da órbita astral, a pureza da cor selênica. Luzes amarelas estáticas, alinhadas, criptografadas pelas ruas, avenidas, becos e esquinas estruturam um vasto formigueiro turbulento, barulhento, violento. E escondem o baixo sibilar das cobras, o coaxar dos sapos, o estridular das cigarras.Os decibéis dos motores automotores contagiam os nossos ouvidos, condenando-nos a sermos quase surdos. As imagens televisivas, coloridas e emitidas via satélites, nos fazem perder os vôos mais encantadores das borboletas, e os esgotos, com seu odor sulfuroso e carcomido, entopem nosso olfato de podridão, impedindo sentirmos o cheiro das flores, dos seres humanos e dos ventos que trazem novidades.
E, nesse universo, vangloriamo-nos do desenvolvimento. Desejamos mais os asfaltos e as “construções arranha-céus”, contentando-nos com as míseras quotas-partes de área verde arbitradas pela prefeitura de nossas cidades. Encangados uns aos outros e limitados por pedaços de terras amontoados, pagamos em dólar pelo desconforto, pela falta de privacidade e pelo aquecimento de nossas cidades.
Por isso, fazemos de nossos feriados um momento de resgate da natureza que existe
E, assim, nessa intriga entre resgatar a natureza dos “índios preguiçosos” que existe em nós e abandonar um sistema que ordena sermos produtivos para sermos felizes, é notória a disseminação da tristeza nas páginas dos livros, nos diários anônimos, nos bloggers e nos fotologs.

Um comentário:
brilhantemente colocado! temos que expor esas ideias ao mundo..
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