quinta-feira, novembro 09, 2006

////Código///de////Barras////

Tive sobre meus olhos, recentemente, versos de um homem apaixonado por uma doce garota, que agora espelha seus setenta e poucos anos. Um amor antigo, que a viuvez deixou renascer, mas um amor bonito, gostoso de se ver.

Aquela historieta versificada tratava de um lindo sapatinho branco, atacadinho de lado, símbolo da presença graciosa daquela jovem nos encontros da igreja, nas padarias e sorveterias de décadas e séculos passados. Aquele delicado calçado, por sua ternura e distinção, assemelhava-se à dona e ao sentimento por ela em seu coração.

Aqueles versos me comoveram, fizeram-me arrepiar. Não sei se porque hoje não temos mais sapatinhos brancos atacadinhos de lado, inspiradores de versos românticos, ou porque temos poucos poetas e amantes como aquele.

Queria ter algum símbolo especificamente meu, mas tenho receio das simbologias atuais. Não quero ser conhecida como garota diesel, menina fórum, mulher adidas. Não quero ter alguém que observe tais selos costurados em calças, blusas ou sapatos como condição de aproximação ou encanto. A futilidade hodierna não permite mais paixões por sapatinhos brancos, sem moda, sem preço, sem marca. É a geração do “ter”, do “parecer”, do “possuir”. Tudo é enquadrado em perspectivas consumeristas, em que nos tornamos reflexo do que vestimos e reféns do que está escrito em uma etiqueta.

Deixemos todo esse arcabouço de lado. Que sejamos lembrados pelo valor evocativo e mágico das coisas. E já que não fugimos dos símbolos, que eu seja nada que tenha código de barras.

Monique Mendes

Um comentário:

Eliza Brito disse...

Nick, você é a garota monique mendes, nada mais, nada menos. Tá pensando que é pouca merda é?:) Nada de etiquetas, você é muito mais. beijos amiga, saudades!