sexta-feira, novembro 10, 2006

Pensamentos a la Mainardi

Percebo que a incendiária que existia em mim esmoreceu com a realidade judiciária. Sonhava em ser advogada, mas isso não se encaixa mais. Desejava ser juíza, mas os juízes são arrogantes demais. Anseio por ser procuradora, e essa é minha única saída. Quiçá uma saída pela culatra, pois volto ao ponto de partida: ser advogada do Estado é talvez ser “advogada do diabo”.

O odor sulfúrico e carcomido exalado nos corredores dos tribunais corrói minha alma, escasseia minhas forças, torna hesitante minha escolha profissional. Tento salvar-me numa tempestade de formalismos, preconceitos, julgamentos insanos e desumanos. O conflito entre os cidadãos tornou-se apenas páginas descritivas de uma verdade dúbia, defendida por argumentos terceirizados, e que mofam nos arquivos públicos, mas que possuem tutela normativa.

Odeio essa tal de norma que cala os questionamentos humanos e arrefece as diversas possibilidades da vida. Ela priva as pessoas de serem homossexuais, preconiza uma religião como se ela fosse a melhor, obriga pobre a pagar imposto, permite senadores decidirem seus próprios salários. Não vejo justiça nisso. Acho que as molas-mestres da vida são princípios, pois sua generalidade torna possível a diversidade, privando apenas o antagonismo, aquilo que realmente impossibilitaria a convivência pacífica entre os seres humanos.

Em contrapartida, concordo que nossa vida é recheada de complexidades, o que nos faz crer que a especialidade das normas seria a solução. Contudo, temos inúmeras leis extravagantes, mas que não é de conhecimento popular. Nada feito. O uso do vernáculo erudito num país de analfabetos impossibilita a simpatia pela norma, torna-a distante, intangível. E não me venha com o argumento de que o problema do Brasil é a educação. Concordo, mas pensar assim é acomodar-se, é voar em órbitas fora do pragmatismo e da reação, pois se direito e educação se conectam, aí jaz a solução.

Sinto-me um Diogo Mainardi, mas calma, tudo não passa de uma elucubração cá nos meus botões...

Monique Mendes

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