Certa vez, li em algum lugar, que a história da humanidade se constituía por ciclos: sejam nas vontades, nos ideias e/ou na literatura. Entretanto, mesmo que voltando ao ponto inicial, sempre algum detalhe pitoresco havia sido acrescentado - os árcades, os românticos, os naturalistas e os parnasianos me mostraram isso. Nos primeiros, a mulher era intocável, depois passou a ser uma deusa mais tocável, logo depois uma devassa e, por fim, apenas objeto descritivo dos grandes escritores, como vasos e pérolas.
Constatei que tudo depende de um ponto de vista: a angelical, apesar de não poder ser tocada, era vista em seus mais sensuais detalhes; a deusa mais tocável hipnotizava os boêmios ao invés dos mais ingênuos; a devassa mostrava toda sua silhueta descoberta e, por isso mesmo, não tinha tantos detalhes picantes advindos do segredo e, parnasianamente, depois de mostrar tudo, passou a ser objeto de descrição dos apreciadores frios. Entretanto, a sensualidade variava de acordo com o que mais tocava o leitor, seja a devassidão, seja a pureza da virgindade, seja o detalhe das descrições.
Parece óbvio ou maluco mas, a partir dos livros de literatura do colégio, passei a adotar esse variável ponto de vista, quando antes minha mente apenas se direcionava para um só pensamento e dedução. Assim, a garota que não estudava, deixou de ser somente preguiçosa ou desinteressada. O galhofeiro da sala, deixou de ser panaca. A garota que ficava com todos os garotos, deixou de ser safada. O paquerinha não foi mais excluído por possuir um sinal cabeludo, afinal, tinha um brilho no olhar.
Meus personagens deixaram de ser maniqueístas. Até mesmo eu deixei de ser a careta CDF da sala. Não que eu usasse óculos e tivesse cabelo arrepiado como mostram os filmes americanos, mas porque a falta de tato para lidar com as diferenças me fazia ser chata, arrogante e a dona da verdade. Assim, apesar de ter lido os livros mais vanguardistas, agia preconceituosamente quando os utilizava para me vangloriar dos que apenas tinham lido gibi da Turma da Mônica nas férias.
Quando resolvi tirar os cabrechos do radicalismo, as tardes solitárias de leitura continuaram as ser legais, mas passei a brincar de pique-esconde com o pessoal da rua, deixei de ser chamada de "Miss Simpatia" e parei de eliminar as pessoas por detalhes tão sutis diante de toda sua completude.
E, agora confesso, apesar de não usar saia curta, me deleitava com o despudor dos naturalistas.
Monique Mendes
3 comentários:
É, tb tenho visto claramente isso q vc abordou no texto.Tudo é mais complexo,maior do que pensamos e julgamos!
Saudades danada de tu.
Ex-miss simpatia hauahauahauahau!
Bjos,Jumona!
Ah..ainda bem q vc voltou a produzir.Espero q venha uma boa(=grande) safra de textos por aí....Já sei..vc tava adubando,irrigando p nascer bons frutos...huahauaahuah
muito bem escrito e muito bem pensado, novas perspectivas são sempre muito bem vindas.
:*
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